Resenha Literária: Anne da Ilha
março 28, 2022Crescer. Por definição, o dicionário atribui ao verbo o significado de desenvolver-se progressivamente. Na escola, especialmente em biologia, aprendemos que crescer é seguir o fluxo padrão da vida em uma ordem predeterminada e resumida em: nascer, crescer, morrer. Somos sementes, que enraizadas crescemos e buscamos constantemente nosso lugar ao Sol.
Anne da Ilha, o terceiro livro da série Anne, nos conduz a mais uma fase da vida de Anne Shirley, agora com seus 18 anos e seguindo para sua tão sonhada vida universitária. O livro inicia com uma reflexão que provavelmente, independente da sua idade, tenha passado pelos seus pensamentos em alguma ocasião: “você acha que ser adulto é realmente bom como imaginávamos quando éramos crianças?” (Página 11).
Logo nos primeiros capítulos conseguimos observar uma Anne saudosa, deixando Green Gables, despedindo de seus amigos e mudando-se para uma pensão para, enfim, estudar na Redmond College. Anne muda-se para um quarto onde sua amiga Priscilla Grant, com quem estudou na Queen's, a espera ansiosamente.
Ambas iniciam a jornada universitária juntas, realizando a matrícula e conhecendo também Philippa Gordon, uma personagem essencial para a construção da trama da história pelos próximos capítulos. Phil, seu apelido ao longo da narrativa, é uma garota que chama a atenção e, apesar de seu comportamento inconstante e superficial, é capaz de encantar os corações de nossos jovens estudantes. Essa amizade é construída de forma robusta e fluida, é como se pudéssemos ligar para qualquer uma delas (claro levando em consideração que hoje temos essa possibilidade).
Entre as idas e vindas de férias entre Redmond e Green Gables, a vida movimentada e a rotina universitária, Anne recebe uma carta de Stella, outra amiga apresentada no livro de Anne de Green Gables, que havia estudado com ela também na Queen’s. Stella comunica que se mudará para faculdade e agora o quarteto viverá novas emoções em uma charmosa casinha alugada, a Casa da Patty, o lar destinado à quatro moças jovens, desfrutando da liberdade aproveitando cada momento da vida.
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Foto: Mylena Silva |
“Se eu tivesse uma forma de remover da sua vida tudo o que não fosse felicidade e prazer, certamente eu faria, Anne.” (Página 52).
Se você já leu os outros livros de Anne até aqui, provavelmente está sofrendo com o nosso romance "banho-maria" entre Gilbert e Anne. Mas prepare o coração! Saiba que grandes surpresas nos esperam nessa leitura. Em Anne da Ilha, Gilbert tem maior consciência sobre seus sentimentos em relação a nossa amada ruivinha e isso gerará alguns dos principais conflitos entre ambos durante a leitura. O que será que vem por aí?
A máxima da história, no meu ponto de vista, e um dos momentos mais tristes da história é sem dúvidas a maneira com que Anne lidará com o luto de uma de suas melhores amigas após contrair tuberculose.
Em Anne da Ilha, começamos a olhar a perspectiva da vida, assim como Anne cresce, a forma que a vida é digerida fica mais próxima do real. A morte nunca é algo fácil de lidar e a leitura nos apresenta cenas de empatia, melancolia e poesia, tudo isso de uma forma única e sensível.
“Sempre fica algo inacabado - comentou a senhora Lynde, com os olhos cheios de lágrimas. - Mas, suponho que sempre haja alguém que o termine.” (Página 116).

Foto: Mylena Silva
Os pedidos de casamento de Anne

Crescer no século XIX, sendo mulher, absolutamente não era fácil, claro, apesar de todo o contexto político que conhecemos, mulheres inevitavelmente eram cobradas para se casar, e convenhamos que talvez isso não tenha mudado tanto assim nos dias atuais, não é mesmo?
Durante a leitura de Anne da Ilha, nossa protagonista recebe alguns pedidos de casamento, uns totalmente sem noção e que trazem alívio cômico durante as páginas, outros, desesperados e confusos. É uma experiência única ler sobre a cultura e como a sociedade reagia a este tipo de situação no passado. Vale a pena ler com calma e refletir sobre cada cena.
Anne em Bolingbroke
Em Anne da Ilha vamos encontrar uma cena encantadora da série: Anne visita a casa a qual nascera e passara pouquíssimo tempo com seus pais antes de se tornar órfã. “Você nasceu no quarto Leste. Lembro-me de sua mãe dizendo que amava ver o sol nascer. E também ouvi dizer que você nasceu justo ao amanhecer, e a primeira coisa que viu no seu nascimento foi a luz do sol sobre seu rosto.” (Página 153). É emocionante esse reencontro com os fantasmas do passado, uma lacuna preenchida na vida de Anne, que é capaz de saber detalhes importantes sobre sua família.
“Tem os traços de seu pai, que também era ruivo. Mas os olhos e a boca são de sua mãe.” (Página 153).
O livro Anne da Ilha é sem dúvida um dos meus preferidos da série, ocupa o segundo lugar nesse ranking imaginário e extremamente pessoal. Em vários momentos me identifiquei com a história, uma vez que tenho 25 anos, quase 26 quando escrevo esta resenha literária. Recordo exatamente do dia em que passei na faculdade: obter o resultado, dar um passo para a realização de um sonho, deixar a casa da minha mãe rumo ao desconhecido, aprender a lidar com novas situações que exigiam de mim um amadurecimento maior.
Anne da Ilha é um encontro com uma das minhas versões, que guardo entre as muitas dentro de mim. Uma Mylena solitária, pensando em seu lar, na família, nos amigos e histórias que precisei colocar um ponto final, a fim de escrever novos capítulos da minha jornada nesse mundo.
Eu poderia falar horas sobre essa leitura, e se você por algum acaso ler, não hesite em me chamar ou enviar um e-mail, serei a pessoa mais feliz falando sobre Anne da Ilha com você!
Se você chegou até aqui, saiba que fico muito feliz!
Em tempos que existem limitações de caracteres, ler um texto desse tamanho mostra o quanto você faz parte das pessoas que poderiam ser facilmente uma alma-irmã.
Um grande abraço!
Mylena.
2 comentários
Ótima resenha! Vi apenas série de Anne e ao ler sua resenha dá vontade de ler os livros. Parabéns!
ResponderExcluirFico muito feliz com o comentário! Tenho certeza que você terá excelentes experiências com a leitura da série.
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